segunda-feira, 21 de março de 2011

A mesma chama

Por debaixo dos nossos saiotes, dentro das nossas blusas sem decote, no fundo dos nossos olhos, que fitavam o chão, queimava a mesma chama que há dentro de vocês. Era uma chama silenciosa. Um incêndio devastador numa área inabitada: Os estragos eram furiosos, mas ninguém havia de ver; Ninguém repararia aquele universo em expansão, dentro de nós. Viver, amar, sofrer. No silêncio.
Éramos acessórios. Belas, educadas, dóceis. Éramos aquelas que serviam o jantar na hora certa, que sorriam timidamente, que deitavam os corpos, fechavam os olhos e esperavam. Não havia voz, liberdade ou libido.
Nas festas, ficávamos impecáveis, no canto. Brinquedos de exposição. Trocávamos receitas de bolo, ou qualquer outro segredo da culinária. Eu fingia viver a vida dos meus sonhos, ou talvez, até acreditasse que aquela era a vida que sonhara.
E eu não esperava que isso mudasse.
Mas, então, ela apareceu.
O seu batom era vermelho e seus olhos, pintados. Mas era algo, além disso, que me empurrava para ela; Algo que ainda não sei definir.
Nossos maridos nos apresentaram. Eram amigos de décadas, quando o outro saiu do estado. Trocavam cartas. Este era o reencontro. Para os dois, havia muito que conversar. Para nós duas, um universo para conhecer. A festa acabou e só restávamos nós quatro em minha casa.
Nossos homens deixavam o uísque falar de suas vitórias, na sala. Eu lavava os copos, enquanto conversava com ela, parada ao meu lado. Ela se moveu, por trás de mim, roçando o seu corpo no meu. Parei. Um arrepio subiu pela minha pele. Algo que eu não sabia se era desconforto, medo ou excitação. Parei porque desconhecia aquela sensação. Então, seu rosto colou no meu, e eu podia sentir o sopro quente da sua respiração no meu pescoço; Enquanto sua mão subia pelas minhas pernas, por dentro da minha saia. Um som entre o soluço e o sussurro rompeu os meus lábios. Fechei os olhos, entre o pavor e a aceitação.
Mas ouvi o meu nome.
_ Camila – Meu marido gritava, enquanto o meu coração disparava, ainda mais, no peito – Arrume o quarto de hóspedes. Nossos convidados passarão a noite, por aqui.
_ Sim senhor, meu marido.
Ela me seguiu, para o segundo andar, e ajudou a preparar o quarto. Nossos olhos eram servis; Fitavam apenas o chão. Mas, quando terminamos a tarefa, eles se cruzaram. E ela veio até a mim. Suas mãos desfilavam docemente pelo meu corpo. E, como se ela pudesse sentir a luta entre meu medo e libido, sussurrou, em meu ouvido “Você é linda. Nunca tenha vergonha de ser desejada. E aceite o próprio desejo”.
Estava úmida, trêmula e ofegante, pela primeira vez em minha vida. Desejei beijar seus lábios, mas não pude. Ela sorriu e nós fomos ao encontro dos nossos esposos.
Minha mente estava longe do que acontecia: Imaginava o que havia por debaixo do vestido dela; Escondido em seu nome: Renata.
Deitada, em minha cama, ouvia seus sussurros e gemidos. E eu desejava ser aquela mulher linda, intrigante, sem medo. Meu homem ressonava ao meu lado e, entre os barulhos da cama na parede e a melodia erótica que a rompia os lábios, permiti que as minhas mãos percorressem o meu corpo; Conhecessem a minha pele; Suassem a minha alma. Eu mordia os lábios e tremia, envolta à minha imaginação. E me senti viva, pela primeira vez.
Amanheci com batidas na porta do meu quarto. Era ela, me chamando para a missa de domingo. Pedi ao meu marido que me deixasse ir e ele pareceu fazer gosto desta amizade que surgia. Partimos, as duas, usando belos vestidos de igreja. Sentamos lado a lado. A missa lotada.
Senti sua mão passeando pela minha pele e o rubor dominar minha face. Quando me encontrou úmida, por baixo do meu vestido, parou. E seus olhos sorriram para mim. Renata se levantou e saiu pela porta lateral. E eu não tinha escolha, senão a seguir.
Segui o movimento de seus quadris, até a porta do banheiro. Ela me olhava, enquanto, lentamente, a fechava. Interrompi seu ato com uma das mãos, e entrei, no cômodo, com ela. Passei a chave.
Renata me olhava, recostada na parede. E eu fui até ela. E comecei a desabotoar seu vestido, vendo brotar, dentro dele, a suave pele do seu corpo. E a toquei os seios. E imitei o percurso que suas mãos haviam feito por minhas pernas. E lhe apertei a coxa, por dentro, para deslizar os dedos pela sua calcinha. Ela fechava os olhos e entreabria os lábios. E a sinfonia que me embalou a noite de descobertas do meu corpo, começava a soar, baixinho, em meus ouvidos. E, novamente, minhas mãos assumiram o controle.
O que ouvíamos era misto de gemidos e orações. Meus dedos encontravam sua casa. Meu corpo percebeu o lugar que pertencia.
Suor e saliva. Eu e Renata. Nós duas procurando espaços, uma na outra, enquanto relaxávamos em nossos orgasmos. Medo e prazer. E eu entendendo o que era pele, atração, sexo. Luxúria. E desejei morrer mil vezes do mesmo pecado. E implorei vez após vez, para tê-la dentro de mim.
Vinte anos até o seu marido morrer e Renata vir morar conosco. Mais três, até o meu partir desse mundo, para, pela primeira vez, dividirmos a cama. Décadas de falta de controle, de instintos selvagens, de desejo pingando em corredores, banheiros, escadas, igrejas, praças, sorveterias. Décadas de gemidos reprimidos, para, finalmente, recebermos o direito de berrar em nossa cama; Em nossa casa.
Éramos acessórios. Belas, educadas, dóceis. Éramos aquelas que serviam o jantar na hora certa, que sorriam timidamente. Que rebolavam os corpos, uma na outra, fechavam os olhos e deliravam. Não havia voz, em nossa liberdade e libido.
Por debaixo dos nossos saiotes, dentro das nossas blusas sem decote, no fundo dos nossos olhos, que fitavam o chão, queimava a mesma chama que há dentro de vocês. Era uma chama silenciosa. Um incêndio devastador numa área inabitada: Os estragos eram furiosos, mas ninguém havia de ver; Ninguém repararia aquele universo em expansão, dentro de nós. Viver, amar, gozar. No silêncio.”

Um comentário:

  1. LI SEU COMENTARIO HOJE SOBRE AS INFORMAÇÕES DO CASAMENTO, BOM NÃO GASTAMOS MUITO PORQUE EU FIZ TUDO, FIZ A DECORAÇÃO O BOLO O BUFFET NOS PAGAMOS EM ALGUMAS VEZES, FIZ MUITA PESQUISA NA INTERNET, E COMPREI TUDO EM PROMOÇÕES, SE VOCÊ MORAR EM SP TEM UMA LOJA QUE CHAMA LOJASANTOANTONIO ONDE ENSINA TUDO SOBRE DECORAÇÃO, ARTESANATO, E COMIDAS PARA FESTAS, VC PODE FAZER OS CURSOS, E FAZER TUDO VC MESMA É MUITO MAIS LEGAL.
    SE PRECISAR DE AJUDA PODE ME PEDIR AINDA NAO RECEBI AS FOTOS DA FOTOGRAFA MAS QUANDO RECEBER EU TE MANDO.

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